Dentre os países economicamente mais igualitários do mundo estão o
Lesoto (topo) e Serra Leone. Dentre os países mais desiguais do mundo estão a
Suécia (topo), Dinamarca, Noruega e Áustria. Para qualquer pessoa com algum
senso e dotada de certo grau de honestidade, portanto, torna-se uma atitude
imoral proclamar-se combatente da desigualdade, pois o combate à miséria, esta
sim, a pior das desgraças, parece levar necessariamente a ela. E onde há
miséria não costuma haver desigualdade, e vice-versa.
No entanto, o advento do iluminismo e da queda da cabeça de Luís XVI,
criou este novo paradigma moderno, pesando sobre a humanidade. Qual é a justiça
que existe em vivermos em um mundo em que o esforço muitas vezes não substitui
a virtude? Por que as pessoas mais bonitas têm mais chances? Por que os
talentosos muitas vezes fazem mais sucesso que os que trabalharam arduamente
para conseguir? Por que nascer em uma família rica traz vantagens? Por que um
jogador de futebol ganha mais que um professor?
Algumas pessoas escolhem o primeiro argumento, aquele pragmático,
aristotélico, baseado na inexorabilidade dos fatos, o da supremacia do
indivíduo e das livres escolhas econômicas. Outras, escolhem defender o
segundo, o da justiça idealizada, platônica, o da criação de um mundo ideal em
que todos são absolutamente iguais como em uma colônia de formigas (ali tampouco
o são iguais, mas vá lá!). O mundo da sociedade planejada e centralizada. A
essas pessoas convencionou-se chamar de esquerdistas, e aqueles de direitistas.
E onde está o meio termo entre o real e o ideal? Entre aquilo que é e o
que deve ser? Na questão do sexo, passa pela discussão entre poligamia e
poliamor. Por que um, e não o outro, não seria esta uma discussão sobre
firulas? Não! A discussão se dá entre um mundo pragmático e um mundo
idealizado.
Qual é a diferença? No poliamor, três ou mais pessoas casam-se entre si,
em um único ato. Na poligamia, ocorrem diversos casamentos de um mesmo
indivíduo com diversas pessoas. Os casamentos são concatenados e giram em torno
de um único indivíduo. Em ambos os casos, normalmente ocorre um homem com suas
esposas, pois a poliandria, uma mulher com vários homens, é ocorrência bastante
excepcional nas culturas humanas.
Para que se entenda a diferença, deve-se remeter aos princípios do
casamento que são: a. entre um único homem e uma única mulher; 2. com
consentimento mútuo explícito; 3. vitalício, com rompimento previsto apenas por
um rol taxativo de condições; 4. com finalidade de desenvolvimento de filhos.
Ora, direis, que absurdos!
Então um paraplégico não pode casar? Claro que pode, mesmo que não possa
gerar filhos, pode educá-los.
Então uma união estável não é casamento porque não há consentimento
explícito? No sentido clássico, não. É uma teratologia jurídica que só existe
no Brasil.
Então o divórcio consensual é algo errado? Temos que permanecer por toda
a vida com alguém só porque que não traiu, não é bêbado, não é agressivo, não é
pródigo e nem possui problemas mentais? Sim, o divórcio não faltoso é uma
idealização das esquerdas, motivo pelo qual surgiu primeiro na Rússia, em 1919
e na China de 1950, para só então se espalhar no Ocidente liberal (pelo Estado
da Califórnia, 1968, governo de... Ronald Reagan!).
Então casamento gay é algum tipo de pecado? Não é que seja errado, é
apenas tão inútil quanto legislar sobre o casamento entre cachorrinhos de
madame, com caipiras que queiram-se casar com suas ovelhas, ou com casamentos
entre participantes de um time de basquete. Não traz qualquer benefício para a
sociedade, portanto não deveria ser uma questão de estado, já que pode ser
tratado com contratos convencionais e leis dirigidas a benefícios específicos.
No momento que o casamento perde o vínculo contratual, que pressupõe diversas
condições taxativas, ele deixa de ser uma instituição de feições próprias e
passa a ser um mero ritual vazio. Quando tudo passa a ser casamento, nada é
casamento.
Observe-se: casamentos não regulam a sexualidade humana e nem as
questões reprodutivas, mas a otimização da família, esta sim é interesse do
estado durante todos os períodos históricos que nos precederam, por gerar
riqueza, braços para a lavoura, mãos para a guerra e a melhor educação para a
boa administração da pólis. Na Grécia e Roma antigas, boa parte da literatura
sobre sexualidade era voltada para o homossexualismo, mas os antigos jamais
legalizaram o casamento homossexual. Por quê? Porque não tem função alguma para
o estado, ora.
Por que, então, são teratológicas as decisões sobre uniões poliafetivas
que têm sido realizadas em cartórios pelo país? Mesma resposta, porque o
instituto do casamento não regula questões sexuais e nem reprodutivas, mas
trata da otimização da sociedade.
Pois bem, e por que a maior parte das sociedades modernas são
monogâmicas? Porque é economicamente mais viável. Um homem para cada mulher
gera mais filhos e concentra mais propriedades nas mãos de cada família, pois
há uma linha clara de herança. Por isso é que as grandes aglomerações
populacionais, os chamados “formigueiros humanos” como Tóquio, Cidade do
México, Xangai ou São Paulo estão em países monogâmicos, normalmente com
economias industrializadas mais pujantes, e não na Arábia Saudita ou no
Marrocos.
E, se o poliamor pode ser considerado mais uma teratologia jurídica do grande
circo de horrores do sistema jurídico brasileiro concernente ao casamento, a
poligamia também não seria?
Para responder esta questão, deve-se perguntar por que numerosos povos
antigos tornaram a poligamia um sistema legal, e não outras expressões da
sexualidade humana? Por que, em pesquisa do início do século XX, de 250
culturas tradicionais, 193 eram poligâmicas?
O leitor atento já sabe a resposta: por que é de interesse do estado. E
é de interesse das mulheres também.
Se o casamento for relativizado, seja ele monogâmico ou poligâmico, ele
deixa de existir, deixando famílias desestruturadas e pessoas isoladas na
sociedade, não podendo contar com o apoio familiar, necessitando cada vez mais da
interferência estatal. É por isso que se relaciona como propostas das esquerdas
a relativização dos casamentos: o divórcio consensual, o reconhecimento do
concubinato, os casamentos poliafetivos, não procriativos e não educativos de
crianças. O mote por trás desses discursos é a destruição da família e maior
fragilidade do indivíduo, com sua substituição por um ente abstrato, provedor
de educação, previdência social e atendimento à saúde, chamado estado.
Por outro lado, famílias poligâmicas continuam sendo famílias. Menos
eficientes economicamente e com menor potencial de geração de população, é
verdade, mas com todos os requisitos de um casamento, estes reconhecidos pela
experiência humana no decorrer dos milênios, em todas as sociedades
tradicionais de cultura dominante, sejam elas de tradição monogâmica ou
poligâmica.
As famílias poligâmicas são odiadas pelas esquerdas, pois, conforme elas,
representam o domínio do macho opressor sobre as mulheres indefesas, mas independente
da pressão sobre elas, possuem uma enorme vantagem sobre as sociedades
monogâmicas.
Volta-se ao início. Por que a legislação brasileira não aceita a
poligamia, mas cerra os olhos para as relações poliafetivas, que aos poucos se
insinua para o acolhimento jurídico? Pelo motivo que os nossos esquerdistas
desejam fortalecer o estado e reduzir a atuação do indivíduo, como tem
acontecido com todas as medidas de relativização do instituto do casamento. A
proibição da poligamia não é fato isolado.
Nas sociedades poligâmicas, não temos as “velhas dos gatos”, figura
caricatural das mulheres solitárias tão comuns no nosso cotidiano, pois não costumam
ficar abandonadas pelas famílias. Aos 65 anos, conforme o IBGE, tem-se um homem
solteiro para cada quatro mulheres na mesma situação. 25% dos homens estarão
solitários nesta idade contra 66% das mulheres. A dependência feminina do
estado é nítida e o discurso de uma pretensa igualdade gera uma situação
oposta, a da flagrante desigualdade.
Qual a consequência deste abandono? Para as juízas, promotoras,
empresárias, jornalistas bem sucedidas, artistas de renome, enfim, mulheres
ricas que formam opinião e tomam decisões que afetam a sociedade, além da grande
probabilidade de abstinência sexual na terceira idade, praticamente nenhuma,
mas para a mulher que tem dois empregos e acorda às quatro da manhã para viajar
mais de duas horas em um ônibus lotado, é a diferença entre uma vida digna e
confortável e a miséria absoluta, em um mundo em que 70% dos miseráveis são
mulheres. Para aquela que pode beneficiar-se do estado, com gordos salários e
influências diversas, monogamia é uma maneira de acumular mais e mais riqueza,
mas para a que vai para a fila do SUS e recebe aposentadoria minguada, trata-se
de tragédia pessoal, de genocídio. As decisões idealizadas e ideológicas tomadas
pelos detentores e detentoras do poder decisório é fonte de infortúnio das que
estão mais abaixo na coluna social.
Aquele que proíbe o ato e censura a discussão sobre poligamia, não só
incentiva a desigualdade, como também incrementa a miséria. É o pior dos dois
mundos.
A aceitação da poliafetividade e a negação da poligamia é, portanto, parte
da velha luta entre os pensamentos que contrastam o mundo pragmático e o mundo
idealizado, que tem sido vencida amplamente pelas esquerdas, tão pródigas em
criar infernos socialistas no decorrer da história recente.
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