“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder.”

(Oscar Wilde)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Poligamia Versus Poliamor


Dentre os países economicamente mais igualitários do mundo estão o Lesoto (topo) e Serra Leone. Dentre os países mais desiguais do mundo estão a Suécia (topo), Dinamarca, Noruega e Áustria. Para qualquer pessoa com algum senso e dotada de certo grau de honestidade, portanto, torna-se uma atitude imoral proclamar-se combatente da desigualdade, pois o combate à miséria, esta sim, a pior das desgraças, parece levar necessariamente a ela. E onde há miséria não costuma haver desigualdade, e vice-versa.
No entanto, o advento do iluminismo e da queda da cabeça de Luís XVI, criou este novo paradigma moderno, pesando sobre a humanidade. Qual é a justiça que existe em vivermos em um mundo em que o esforço muitas vezes não substitui a virtude? Por que as pessoas mais bonitas têm mais chances? Por que os talentosos muitas vezes fazem mais sucesso que os que trabalharam arduamente para conseguir? Por que nascer em uma família rica traz vantagens? Por que um jogador de futebol ganha mais que um professor?
Algumas pessoas escolhem o primeiro argumento, aquele pragmático, aristotélico, baseado na inexorabilidade dos fatos, o da supremacia do indivíduo e das livres escolhas econômicas. Outras, escolhem defender o segundo, o da justiça idealizada, platônica, o da criação de um mundo ideal em que todos são absolutamente iguais como em uma colônia de formigas (ali tampouco o são iguais, mas vá lá!). O mundo da sociedade planejada e centralizada. A essas pessoas convencionou-se chamar de esquerdistas, e aqueles de direitistas.
E onde está o meio termo entre o real e o ideal? Entre aquilo que é e o que deve ser? Na questão do sexo, passa pela discussão entre poligamia e poliamor. Por que um, e não o outro, não seria esta uma discussão sobre firulas? Não! A discussão se dá entre um mundo pragmático e um mundo idealizado.
Qual é a diferença? No poliamor, três ou mais pessoas casam-se entre si, em um único ato. Na poligamia, ocorrem diversos casamentos de um mesmo indivíduo com diversas pessoas. Os casamentos são concatenados e giram em torno de um único indivíduo. Em ambos os casos, normalmente ocorre um homem com suas esposas, pois a poliandria, uma mulher com vários homens, é ocorrência bastante excepcional nas culturas humanas.
Para que se entenda a diferença, deve-se remeter aos princípios do casamento que são: a. entre um único homem e uma única mulher; 2. com consentimento mútuo explícito; 3. vitalício, com rompimento previsto apenas por um rol taxativo de condições; 4. com finalidade de desenvolvimento de filhos.
Ora, direis, que absurdos!
Então um paraplégico não pode casar? Claro que pode, mesmo que não possa gerar filhos, pode educá-los.
Então uma união estável não é casamento porque não há consentimento explícito? No sentido clássico, não. É uma teratologia jurídica que só existe no Brasil.
Então o divórcio consensual é algo errado? Temos que permanecer por toda a vida com alguém só porque que não traiu, não é bêbado, não é agressivo, não é pródigo e nem possui problemas mentais? Sim, o divórcio não faltoso é uma idealização das esquerdas, motivo pelo qual surgiu primeiro na Rússia, em 1919 e na China de 1950, para só então se espalhar no Ocidente liberal (pelo Estado da Califórnia, 1968, governo de... Ronald Reagan!).
Então casamento gay é algum tipo de pecado? Não é que seja errado, é apenas tão inútil quanto legislar sobre o casamento entre cachorrinhos de madame, com caipiras que queiram-se casar com suas ovelhas, ou com casamentos entre participantes de um time de basquete. Não traz qualquer benefício para a sociedade, portanto não deveria ser uma questão de estado, já que pode ser tratado com contratos convencionais e leis dirigidas a benefícios específicos. No momento que o casamento perde o vínculo contratual, que pressupõe diversas condições taxativas, ele deixa de ser uma instituição de feições próprias e passa a ser um mero ritual vazio. Quando tudo passa a ser casamento, nada é casamento.
Observe-se: casamentos não regulam a sexualidade humana e nem as questões reprodutivas, mas a otimização da família, esta sim é interesse do estado durante todos os períodos históricos que nos precederam, por gerar riqueza, braços para a lavoura, mãos para a guerra e a melhor educação para a boa administração da pólis. Na Grécia e Roma antigas, boa parte da literatura sobre sexualidade era voltada para o homossexualismo, mas os antigos jamais legalizaram o casamento homossexual. Por quê? Porque não tem função alguma para o estado, ora.
Por que, então, são teratológicas as decisões sobre uniões poliafetivas que têm sido realizadas em cartórios pelo país? Mesma resposta, porque o instituto do casamento não regula questões sexuais e nem reprodutivas, mas trata da otimização da sociedade.
Pois bem, e por que a maior parte das sociedades modernas são monogâmicas? Porque é economicamente mais viável. Um homem para cada mulher gera mais filhos e concentra mais propriedades nas mãos de cada família, pois há uma linha clara de herança. Por isso é que as grandes aglomerações populacionais, os chamados “formigueiros humanos” como Tóquio, Cidade do México, Xangai ou São Paulo estão em países monogâmicos, normalmente com economias industrializadas mais pujantes, e não na Arábia Saudita ou no Marrocos.
E, se o poliamor pode ser considerado mais uma teratologia jurídica do grande circo de horrores do sistema jurídico brasileiro concernente ao casamento, a poligamia também não seria?
Para responder esta questão, deve-se perguntar por que numerosos povos antigos tornaram a poligamia um sistema legal, e não outras expressões da sexualidade humana? Por que, em pesquisa do início do século XX, de 250 culturas tradicionais, 193 eram poligâmicas?
O leitor atento já sabe a resposta: por que é de interesse do estado. E é de interesse das mulheres também.
Se o casamento for relativizado, seja ele monogâmico ou poligâmico, ele deixa de existir, deixando famílias desestruturadas e pessoas isoladas na sociedade, não podendo contar com o apoio familiar, necessitando cada vez mais da interferência estatal. É por isso que se relaciona como propostas das esquerdas a relativização dos casamentos: o divórcio consensual, o reconhecimento do concubinato, os casamentos poliafetivos, não procriativos e não educativos de crianças. O mote por trás desses discursos é a destruição da família e maior fragilidade do indivíduo, com sua substituição por um ente abstrato, provedor de educação, previdência social e atendimento à saúde, chamado estado. 
Por outro lado, famílias poligâmicas continuam sendo famílias. Menos eficientes economicamente e com menor potencial de geração de população, é verdade, mas com todos os requisitos de um casamento, estes reconhecidos pela experiência humana no decorrer dos milênios, em todas as sociedades tradicionais de cultura dominante, sejam elas de tradição monogâmica ou poligâmica.
As famílias poligâmicas são odiadas pelas esquerdas, pois, conforme elas, representam o domínio do macho opressor sobre as mulheres indefesas, mas independente da pressão sobre elas, possuem uma enorme vantagem sobre as sociedades monogâmicas.
Volta-se ao início. Por que a legislação brasileira não aceita a poligamia, mas cerra os olhos para as relações poliafetivas, que aos poucos se insinua para o acolhimento jurídico? Pelo motivo que os nossos esquerdistas desejam fortalecer o estado e reduzir a atuação do indivíduo, como tem acontecido com todas as medidas de relativização do instituto do casamento. A proibição da poligamia não é fato isolado.
Nas sociedades poligâmicas, não temos as “velhas dos gatos”, figura caricatural das mulheres solitárias tão comuns no nosso cotidiano, pois não costumam ficar abandonadas pelas famílias. Aos 65 anos, conforme o IBGE, tem-se um homem solteiro para cada quatro mulheres na mesma situação. 25% dos homens estarão solitários nesta idade contra 66% das mulheres. A dependência feminina do estado é nítida e o discurso de uma pretensa igualdade gera uma situação oposta, a da flagrante desigualdade.
Qual a consequência deste abandono? Para as juízas, promotoras, empresárias, jornalistas bem sucedidas, artistas de renome, enfim, mulheres ricas que formam opinião e tomam decisões que afetam a sociedade, além da grande probabilidade de abstinência sexual na terceira idade, praticamente nenhuma, mas para a mulher que tem dois empregos e acorda às quatro da manhã para viajar mais de duas horas em um ônibus lotado, é a diferença entre uma vida digna e confortável e a miséria absoluta, em um mundo em que 70% dos miseráveis são mulheres. Para aquela que pode beneficiar-se do estado, com gordos salários e influências diversas, monogamia é uma maneira de acumular mais e mais riqueza, mas para a que vai para a fila do SUS e recebe aposentadoria minguada, trata-se de tragédia pessoal, de genocídio. As decisões idealizadas e ideológicas tomadas pelos detentores e detentoras do poder decisório é fonte de infortúnio das que estão mais abaixo na coluna social.
Aquele que proíbe o ato e censura a discussão sobre poligamia, não só incentiva a desigualdade, como também incrementa a miséria. É o pior dos dois mundos.
A aceitação da poliafetividade e a negação da poligamia é, portanto, parte da velha luta entre os pensamentos que contrastam o mundo pragmático e o mundo idealizado, que tem sido vencida amplamente pelas esquerdas, tão pródigas em criar infernos socialistas no decorrer da história recente. 

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