“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder.”

(Oscar Wilde)

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O AMOR É MESMO LIVRE?


Em março de 2014 a Google patenteou a primeira lente de contato inteligente do mundo que é uma espécie de controle remoto para o Google Glass e tecnologias embarcadas em veículos.
A tecnologia avança muito rapidamente. No momento que essas linhas são escritas parece ser apenas questão de tempo para que câmeras diminutas possam ser instaladas nos olhos do usuário ou em drones do tamanho de mosquitos, o que terá um impacto brutal na privacidade.
Quando isso acontecer, e isso provavelmente acontecerá muito em breve, será que as pessoas irão querer fazer sexo com estranhos, de maneira que aquilo que atualmente se restringe a quatro paredes possa ser exposto imediatamente na Rede Mundial de Computadores para amigos e familiares assistirem em suas casas?
Já que não se terá muita privacidade no futuro, não se sabe se essas tecnologias desencadearão uma nova moral, como a do filósofo mendigo Diógenes de Sinope, na Antiga Grécia, que não via mal em masturbar-se em público, mas em princípio tudo indica que ao invés de uma nova moral é mais provável que poderá renascer um novo moralismo nos moldes vitorianos e as pessoas simplesmente voltarão a evitar sexo com estranhos, já que a confiança mútua necessária deverá ser muito maior do que é atualmente. Não é muito difícil que a sociedade global volte a ser como uma pequena cidade provinciana, com todos interferindo e olhando atentamente para a vida de todos.
O avanço da tecnologia apenas tornará o que já existe mais flagrante. A discrição que hoje é apenas exigida de artistas famosos e figuras públicas, deverá ser estendida a todos, pois assim como uma artista famosa perde contratos de publicidade ou uma candidata a cargo político perde votos, se expostas em suas privacidades, em breve todos arriscarão a perder amigos, famílias, pretendentes matrimoniais, empregos e carreiras acadêmicas se expuserem a sua vida privada. E está cada dia que passa mais difícil de evitar isso, à medida que a Aldeia Global prevista por McLuhan acontece e nos retribaliza.
No entanto, esse processo não está iniciando só agora, mas vem desde 1960, quando foi inventada a pílula anticoncepcional. A tecnologia só está tornando mais flagrante a outra face da última Revolução Sexual.
Até o presente momento, a maior hierarquia econômica obtida, para as mulheres inescrupulosas, compensava enormemente o risco de ter a sua privacidade exposta, o que, além de muito raro, é pouco importante com a moral atual, afinal, para a maior parte dos mortais, quem se importa com boatos de quem se deita com quem? Será que a Lei do Divórcio, de 1977, não se insere nesse aspecto? Será que para os indivíduos de classes sociais mais abastadas não passou a valer a pena abandonar o marido ou a esposa e casar-se com alguém que o promova social e economicamente?  O “teste do sofá”, dormir com o chefe ou com o superior hierárquico poderia, e de fato traz melhores cargos e salários, melhores papéis na TV e melhores contatos sociais, de maneira que se pode observar, pela primeira vez na história o crescimento dos súcubos: o movimento gay ganhou importância política, muitas mulheres se tornaram poderosas e prostitutas escrevem livros de sucesso e são convidadas a participarem de talk shows. Comportamentos que antes eram condenados, hoje são incentivados, pois têm influência direta no sucesso econômico de muitos indivíduos, sendo o mérito, os contatos pessoais e profissionais muitas vezes bem menos importantes do que o “networking do motel”. Isso está mudando e muito provavelmente vai mudar muito mais.
Buscando-se a mesma atitude para os comuns, aqueles de classes e castas sociais menos favorecidas será que foram beneficiados? Será que é interessante para a mulher comum, a pobre ou a de classe média, trocar de marido à medida que envelhece até chegar no ponto que os anos e a aparência não mais a favoreçam, sem nada que a beneficie, além da solidão e da pobreza, dividindo nada por coisa alguma a cada separação? Será que a Lei do Divórcio é justa ou apenas beneficia um pequeno grupo de pessoas de mau caráter?

A mulher pobre e que age corretamente é a principal prejudicada com a Revolução Sexual e com a relativização dos costumes. O amor livre, portanto, não é de forma alguma livre, pois traz consequências sociais significativas que beneficiam a astúcia e prejudicam a boa-fé.