Apesar de normalmente concordar, quem
lê regularmente este blog sabe que se há algo que eu discordo profundamente dos
pensadores liberais é a questão da poligamia, ou, usando-se o horrível e
politicamente correto termo, o “poliamor”. Hoje, Rodrigo Constantino publicou este texto no jornal Gazeta do Povo que disserta sobre isso.
Seguindo a cartilha esquerdista, as
instituições devem ser destruídas. E qual é a instituição primordial da
sociedade? A família. Logo, as esquerdas primam por destruir o casamento
monogâmico.
Ainda que essa intenção possa ser
verdadeira, como veremos, ambos os lados estão errados, a esquerda achando que
os casamentos poligâmicos destruirão o capitalismo opressor, e os liberais,
crendo que eles estão certos.
Em primeiro lugar, Deus criou Adão,
Eva e Lilith: Deus criou o homem, macho e fêmea “os” criou (Gênesis 1, 27), dizem
os que estudam profundamente a Bíblia, que, aliás, não deveriam defender a
monogamia tão ferozmente, afinal, Isaque, Abraão e Jacó tinham várias esposas. Salomão
tinha trezentas esposas e setecentas concubinas. Marta e Maria têm crises de ciúmes
por Jesus... Deixemos, portanto, amigos liberais, as contradições com os
conservadores, e tenhamos a cabeça mais aberta.
Vamos ao fatos. O IBGE nos informa
que aos 65 anos temos aproximadamente quatro mulheres solteiras para cada
homem. Enquanto a probabilidade de uma mulher envelhecer sozinha é,
majoritária, de 66%, a de um homem é, minoritária, de apenas 25%. Limitar o
casamento a apenas uma mulher, é, portanto, uma imposição do estado nessa
questão, algo totalmente contra o pensamento liberal e fonte dessas
desigualdades. E isso não é apenas um fenômeno brasileiro e contemporâneo, mas acontece
em qualquer sociedade monogâmica. Há séculos, o Talmud já limitava o número de
esposas de um homem em quatro, pois com mais ou menos que isso, acontecem
discrepâncias sociais.
Ora, direis, mas as ricas sociedade
ocidentais liberais são todas monogâmicas, povos poligâmicos são atrasados e
oprimem as mulheres!
Sim e não. Não existe relação
lógica direta. Sociedades monogâmicas são mais industrializadas e normalmente
menos opressoras para com o sexo feminino por um simples motivo: geram
excedente de mão de obra, pois mulheres solteiras são obrigadas a entrarem no
mercado de trabalho, mas desde quando o trabalho para um terceiro liberta o indivíduo? A
livre iniciativa, os estudos, as lei favoráveis, os direitos proprietários, a
escolha da natalidade, etc., certamente são favoráveis à mulher, mas pertencer
a um mercado de trabalho é discutível, pois trabalhar para outro muitas vezes
significa ter instabilidade e baixos salários, apenas uma elite feminina é
beneficiada com este sistema. Será que é sempre melhor acordar às cinco, pegar dois ônibus para trabalhar em uma linha de montagem emburrecedora, ou é melhor para algumas mulheres casarem-se e acordarem às dez na casa de praia? O trabalho liberta? Será? Assim dizia no pórtico de Auschwitz.
O primeiro imperador que se tem
notícia, que tomou medidas liberais como a liberdade religiosa, controles sobre
a caça e criou infraestrutura de correios, foi Gengis Khan, que vivia em uma
sociedade poligâmica. Aliás, a recorrência aos antigos, é lugarcomum dentre os
liberais no que tange ao casamento homossexual: a Grécia e Roma, que veneravam
tal sexualidade, jamais homologaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No
mesmo raciocínio, a grande maioria dos povos antigos inseriram o casamento
poligâmico dentro de seus sistemas legais. Das 250 grandes culturas estudadas
no início do século XX, 196 eram poligâmicas. A poligamia não destrói a família,
como gostariam os esquerdistas, apenas cria clãs, que também são células
sociais coesas, o que vai contra qualquer projeto totalitário.
Com a monogamia, temos, por outro lado,
uma enorme quantidade de “velhas dos gatos”, mulheres que passarão as velhices
solitárias, aumento de prostituição, aumentos de gastos com previdência social,
desamparo e maior pobreza na população feminina, por um puro e simples
desequilíbrio de mercado. O estado interfere na questão matrimonial, impedindo
que homens assumam economicamente e afetivamente as mulheres que são excedentes
populacionais.
Em conclusão, a defesa da monogamia
não tem nada a ver com o discurso liberal, pelo contrário, é apenas oriundo de
ranzinzas conservadores que tentam impor uma ditadura teocrática sem terem lido
a Bíblia com atenção.
Muito pelo contrário, um verdadeiro liberal deveria aclamá-la.
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