Uma novela recente da Rede Globo abordou a questão do incesto, repetindo, na cena apresentada no link acima, o discurso recorrente nas esquerdas que tal proibição é mero tabu. Este é o pensamento de Claude Lévi-Strauss, que afirmava que apenas regras sociais nos tornam
diferentes dos outros animais nas questões de acasalamento, sem qualquer
influência na biologia.
Será?
Pesquisas
que se acentuaram após a década de 1990 inferem que os “laços de sangue” são
muitas vezes laços de cheiros. Um troca intensa de químicos ocorre entre a mãe
e o filho já nos primeiros instantes de vida, que os levam ao reconhecimento
mútuo. Os feromônios, componentes químicos sexuais que apenas agora começam a ser estudados
em seres humanos, não transmitem apenas disponibilidade e saúde sexual, mas
ajudam a identificar genéticas mais adequadas à reprodução e em auxiliarem
laços entre os grupos sociais.
Um ditado
popular no Brasil diz “Case seu filho com a filha de seu vizinho.”. Os
cientistas confirmaram esta máxima com a chamada “Lei da Propinquidade”, que
ratifica o senso comum, afirmando que é estatisticamente é mais provável
existirem relações amorosas com pessoas próximas, como colegas de faculdade ou
de trabalho. No entanto, os feromônios explicam exceções a esta regra.
Um exemplo pode
ser encontrado nas observações de Lionel Tiger e Robin Fox, que estudaram um kibutz de orientação marxista em Israel
em que as crianças eram separadas dos pais e criadas em coletividade,
convivendo em um mesmo dormitório. Nessa pesquisa foi descoberto que nem um
único casal crescido na coletividade, em um universo de 2769 casamentos, havia
passado os cinco primeiros anos de vida juntos, o que sugere que os laços de
proximidade na tenra infância praticamente impede a atratividade sexual. A
vedação do incesto, portanto, não parece ser uma construção cultural, mas um
imperativo natural.
Outro
exemplo de exceção à lei da propinquidade foi encontrado em dois vilarejos do
Paquistão, idênticos em praticamente tudo, inclusive no arranjo de casamentos
durante a infância, menos em um costume: em uma das cidades a menina permanecia
vivendo com os pais até o casamento, enquanto que na outra, ela ia viver com a
família do futuro marido assim que o casamento fosse tratado. A maior parte
daqueles que cresceram juntos relataram dificuldades sexuais entre si depois de
adultos, enquanto que aqueles que cresceram separados tinham relacionamentos considerados
normais.
E não é só
nos seres humanos que isso ocorre, pois irmãos de uma mesma ninhada não
costumam acasalar entre si.
Este parecem
ser fortes argumentos para o predomínio do princípio da natureza, em detrimento
da pressão social sobre o indivíduo. A existência de um direito natural daí
advindo parece consequência lógica, mas, como já foi falado neste blog, os socialistas, como Lévi-Straus, detestam a ideia de um imperativo biológico.
Conclui-se,
portanto, que o autor da cena de novela acima citada cometeu um erro crasso: o
incesto não existe devido a condicionamentos sociais, mas ocorre assim porque a
vida animal se arranja no planeta Terra dessa maneira, sem qualquer influência da
sociedade.
Luiz Bonow, 2015
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