Nos tempos
que eu estudava na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tinha um
professor que era amigo de infância do filho de Nélson Rodrigues, que um dia se
intitulou de “Anjo Pornográfico”. Frequentando regularmente a sua casa, o
relato que ele contava em aula sobre a sua intimidade correspondia à descrição que
se popularizou: realmente, o dramaturgo era uma pessoa gentilíssima e educada,
gostava de conversar sobre flores e era um bom pai de família.
Na sua
época, também no Rio de Janeiro, havia um homem comum, boa praça, que gostava
de tomar chope com os amigos, tinha esposa e cinco filhos e seguia a rotina de
funcionário público, mas secretamente ilustrava e publicava revistas
pornográficas para adolescentes que ficaram conhecidas em todo o Brasil por
“catecismos”. Alcides Aguiar Caminha, mais conhecido pelo pseudônimo de Carlos
Zéfiro, era também compositor de sambas.
Os que
conheceram o Marquês de Sade também deixaram relatos escritos do mesmo, um
nobre não só no título, mas em atitudes, pessoa agradabilíssima e gentil.
Oscar Wilde,
preso por seu comportamento homossexual e expulso da Inglaterra, era um
verdadeiro “gentleman”, pessoa com acesso às mais altas rodas e com a
inteligência aguda que todos conheceram.
Vātsyāyana,
a quem se atribui a autoria do Kama Sutra, era um monge hindu, veja-se
bem: um Monge!, atividade insuspeita para o escritor de tal obra icônica.
Por que a
narrativa do sexo, tão repudiada e vilipendiada, é feita, historicamente, por tanta
gente boazinha?
Desculpe,
leitor, mas não tenho certeza quanto à resposta, mas arrisco um palpite: o sexo
só consegue ser discursado por pessoas boas e honestas. As mal amadas, as
pessoas reprimidas, rancorosas e canalhas usam a sexualidade alheia como padrão
moral, mas sexo não trata de moral, é uma ciência empírica, como a matemática
ou a química, com regras claras e objetivas.
Por isso o contrassenso
do discurso cru e rude do sexo com comportamentos socialmente desejáveis. Aqueles
que entendem o sentido da natureza humana ganham a aura angelical que os comuns
almejam, mas não conseguem alcançar.
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