Aldous Huxley, nos seus livros seminais
“As Portas da Percepção” e “O Céu e o Inferno”, disserta que existem dois
caminhos para atingir o que ele chama do “mundo dos antípodas da mente” ou “terra
incógnita”, o uso de drogas como a mescalina ou o LSD, ou o método da
auto-hipnose.
Ao escolher-se o caminho “hipnótico” pode-se
dividi-lo também em dois grandes ramos, que é o método assexuado e o método
sexualizado.
Na auto hipnose assexuada, Huxley
disserta sobre algumas maneiras, a ver:
- O jejum prolongado, que faz reduzir o
ácido nicotínico do organismo, elemento químico inibidor de visões;
- o isolamento sensorial, através de
tanques de imersão em líquido sem qualquer ruído ou salas acústicas que isolam
o indivíduo do ambiente externo;
- a mortificação corporal, através do
uso do cilício ou do látego – os ferimentos causados por estes suplícios
medievais, conforme o autor, em conjunto com o jejum e a falta de higiene, causavam
alterações químicas responsáveis pela alteração sensorial;
- o uso de luzes estroboscópicas em
conjunto com sons específicos, técnica utilizada nas chamadas “brain machines”,
ou aparelho eletrônico que tem a função a produção de visões;
- a concentração de uma mistura de sete
volumes de oxigênio para três de dióxido de carbono, seja por meio artificial
ou pelo controle da respiração utilizado pelos exercícios de yoga (pranayama).
Os estados alterados de consciência,
sejam eles os produzidos pelo uso de drogas ou por técnicas produtoras de
visões, no entanto, em geral não passam de mero psicodelismo, simples prazer
que duram apenas o momento do êxtase.
Os antigos, porém, descobriram um
refinamento nessas alucinações sem controle. Em algum momento do Mundo Antigo ocorreu
a descoberta daquilo que foi chamado na mística egípcia de “Olho de Hórus”.
Dentro dessa “terra incógnita”, neste
“mundo do além” amplamente narrado por loucos, drogados e místicos, existe um
tipo especial de alucinação que não é nem única e nem específica do indivíduo,
mas aparece exatamente da mesma maneira para todos os seres humanos que
conseguem atingi-la.
Essa alucinação “arquetípica” foi
chamada no idioma sânscrito de “chacras”, que são luzes preternaturais que
residem em determinados pontos do organismo humano. “Rodas” ou “nós” que podem
ser sentidos, visualizados e manipulados por indivíduos em estado de meditação
ou transe.
Observe-se que não mais se está falando
de alucinações no sentido amplo. Ainda que cada fase do processo de acesso ao
“além” descrita acima seja comum a todos os seres humanos, o que cada um
observa é totalmente diverso, individualizado. Nesta prática, adentra-se em
características da espécie humana, pois cada indivíduo verifica um fenômeno
idêntico ou muito similar ao do outro, pois as descrições encontradas na
literatura, ainda que sujeitas a interpretações religiosas e culturais,
mostram-se coincidentes para diversos autores.
Aqui se verifica mais uma ramificação
nas diferentes técnicas de acesso ao “além”. Enquanto que o uso de drogas e
técnicas rústicas (jejum, estrobo, putrefação da pele pelo látego...) conduzem
a um caminho sem controle, totalmente aleatório e alucinado, as técnicas de
origem sexual produzem um mundo arquetípico, com aquilo que é mais profundo no
ser humano.
Esse é o motivo pelo qual durante toda
a história o sexo foi ligado à religiosidade e a repressão da sexualidade é tão
significativa nas religiões: aquele que tem acesso direto à divindade não
necessita de sacerdotes, portanto não pode ser manipulado.
O controle político necessita do
controle da alma.
Luiz Bonow, 2015
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