“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder.”

(Oscar Wilde)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

ESTADOS ALTERADOS DE CONSCIÊNCIA SEM O USO DE DROGAS

Aldous Huxley, nos seus livros seminais “As Portas da Percepção” e “O Céu e o Inferno”, disserta que existem dois caminhos para atingir o que ele chama do “mundo dos antípodas da mente” ou “terra incógnita”, o uso de drogas como a mescalina ou o LSD, ou o método da auto-hipnose.
Ao escolher-se o caminho “hipnótico” pode-se dividi-lo também em dois grandes ramos, que é o método assexuado e o método sexualizado.
Na auto hipnose assexuada, Huxley disserta sobre algumas maneiras, a ver:
- O jejum prolongado, que faz reduzir o ácido nicotínico do organismo, elemento químico inibidor de visões;
- o isolamento sensorial, através de tanques de imersão em líquido sem qualquer ruído ou salas acústicas que isolam o indivíduo do ambiente externo;
- a mortificação corporal, através do uso do cilício ou do látego – os ferimentos causados por estes suplícios medievais, conforme o autor, em conjunto com o jejum e a falta de higiene, causavam alterações químicas responsáveis pela alteração sensorial;
- o uso de luzes estroboscópicas em conjunto com sons específicos, técnica utilizada nas chamadas “brain machines”, ou aparelho eletrônico que tem a função a produção de visões;
- a concentração de uma mistura de sete volumes de oxigênio para três de dióxido de carbono, seja por meio artificial ou pelo controle da respiração utilizado pelos exercícios de yoga (pranayama).
Os estados alterados de consciência, sejam eles os produzidos pelo uso de drogas ou por técnicas produtoras de visões, no entanto, em geral não passam de mero psicodelismo, simples prazer que duram apenas o momento do êxtase.
Os antigos, porém, descobriram um refinamento nessas alucinações sem controle. Em algum momento do Mundo Antigo ocorreu a descoberta daquilo que foi chamado na mística egípcia de “Olho de Hórus”.
Dentro dessa “terra incógnita”, neste “mundo do além” amplamente narrado por loucos, drogados e místicos, existe um tipo especial de alucinação que não é nem única e nem específica do indivíduo, mas aparece exatamente da mesma maneira para todos os seres humanos que conseguem atingi-la.
Essa alucinação “arquetípica” foi chamada no idioma sânscrito de “chacras”, que são luzes preternaturais que residem em determinados pontos do organismo humano. “Rodas” ou “nós” que podem ser sentidos, visualizados e manipulados por indivíduos em estado de meditação ou transe.
Observe-se que não mais se está falando de alucinações no sentido amplo. Ainda que cada fase do processo de acesso ao “além” descrita acima seja comum a todos os seres humanos, o que cada um observa é totalmente diverso, individualizado. Nesta prática, adentra-se em características da espécie humana, pois cada indivíduo verifica um fenômeno idêntico ou muito similar ao do outro, pois as descrições encontradas na literatura, ainda que sujeitas a interpretações religiosas e culturais, mostram-se coincidentes para diversos autores.
Aqui se verifica mais uma ramificação nas diferentes técnicas de acesso ao “além”. Enquanto que o uso de drogas e técnicas rústicas (jejum, estrobo, putrefação da pele pelo látego...) conduzem a um caminho sem controle, totalmente aleatório e alucinado, as técnicas de origem sexual produzem um mundo arquetípico, com aquilo que é mais profundo no ser humano.
Esse é o motivo pelo qual durante toda a história o sexo foi ligado à religiosidade e a repressão da sexualidade é tão significativa nas religiões: aquele que tem acesso direto à divindade não necessita de sacerdotes, portanto não pode ser manipulado.
O controle político necessita do controle da alma.

Luiz Bonow, 2015

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