“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder.”

(Oscar Wilde)

terça-feira, 23 de junho de 2015

ODORES


Existem duas classes de homens, a dos que tentam adaptar as suas ideias à realidade circundante, os chamados pragmáticos, e a dos que tentam adaptar o mundo a suas ideias, os chamados idealistas. Para estes últimos, como acontece com a ciência do sexo de maneira geral, o princípio da natureza não existe. É totalmente inadmissível para um idealista a existência de um imperativo biológico que promova a ação humana. Para os marxistas, em específico, essa é uma questão de vida ou morte, pois se o ser humano agir conforme a natureza, isso significa que existe um direito natural, portanto não existiriam maneiras de contestar o discurso lockeano, de que a propriedade é um desses direitos. Para o socialista Claude Lévi-Strauss, apenas regras sociais nos tornam diferentes dos outros animais nas questões de acasalamento, sem qualquer influência na biologia. Falando-se especificamente dos cheiros, para outro dos grandes idealistas, Immanuel Kant o olfato era “o mais dispensável e ingrato de todos os sentidos.”.
A mente humana, no entanto, ao contrário que pregava Kant, não é apenas consciente e analítica, com liberdade plena de escolhas, nem apenas fruto dos tabus provenientes do condicionamento social de Lévi-Strauss, mas resultado de milhões de anos de evolução das espécies que conferiram ao ser humano características que lhe foram implantadas muito antes ao desenvolvimento da razão e do surgimento da sociedade.
Há muito que o ser humano percebe a influência dos odores nas artes do amor, mas apenas no início do século XX, o psicólogo inglês Havelock Ellis publica o seu clássico Estudo sobre Psicologia do Sexo: Seleção Sexual no Homem, em que escreveu que “para a maioria dos mamíferos não apenas todas as associações sexuais são principalmente olfativas, mas as impressões recebidas por este sentido bastam para dominar todas as outras.”.
Demorou mais de meio século para que esses insights pioneiros de Ellis fossem retomados por diversos pesquisadores para tentarem explicar alguns fenômenos cotidianos aparentemente desconexos, como a sincronização dos ciclos menstruais de mulheres que vivem juntas, o poder de atração sexual da dança, a mudança de odor que ocorre durante a puberdade, a rejeição de órgãos em transplantes ou decaimento do sentido do olfato que acompanha o decaimento sexual com a idade. No estudo com animais existiam ainda mistérios científicos, como a razão por que irmãos de uma mesma ninhada não costumam acasalarem entre si, se dentre os irracionais não existe a vedação do tabu anunciado por Lévi-Strauss.
O conjunto de conhecimentos que define como os hormônios influenciam o comportamento humano gerou uma disciplina própria, chamada pelo longo nome de psiconeuroendocrinologia. 
Dessa maneira é que se começou a relacionar os odores e seus processos inconscientes como fatores determinantes também no comportamento humano. Foi descoberto que nem todos os químicos voláteis são processados no sistema olfativo principal, existem alguns que são processados por um sistema secundário, químicos estes que os cientistas conhecem por feromônios, palavra com radicais gregos que significam “transferir a excitação”.
Apenas nas últimas décadas é que se começou a aprofundar o estudo da ação de tais químicos na espécie humana, mas muitos pesquisadores têm afirmado que longe se está de uma postura meramente analítica e racional a respeito do comportamento, e os odores têm papel fundamental nos encontros e no acasalamento humano.


Luiz Bonow, 2015

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