Existem duas
classes de homens, a dos que tentam adaptar as suas ideias à realidade
circundante, os chamados pragmáticos,
e a dos que tentam adaptar o mundo a suas ideias, os chamados idealistas. Para estes últimos, como
acontece com a ciência do sexo de maneira geral, o princípio da natureza não
existe. É totalmente inadmissível para um idealista a existência de um
imperativo biológico que promova a ação humana. Para os marxistas, em específico,
essa é uma questão de vida ou morte, pois se o ser humano agir conforme a
natureza, isso significa que existe um direito natural, portanto não existiriam
maneiras de contestar o discurso lockeano, de que a propriedade é um desses
direitos. Para o socialista Claude Lévi-Strauss, apenas regras sociais nos
tornam diferentes dos outros animais nas questões de acasalamento, sem qualquer
influência na biologia. Falando-se especificamente dos cheiros, para outro dos
grandes idealistas, Immanuel Kant o olfato era “o mais dispensável e ingrato de
todos os sentidos.”.
A mente
humana, no entanto, ao contrário que pregava Kant, não é apenas consciente e
analítica, com liberdade plena de escolhas, nem apenas fruto dos tabus
provenientes do condicionamento social de Lévi-Strauss, mas resultado de
milhões de anos de evolução das espécies que conferiram ao ser humano
características que lhe foram implantadas muito antes ao desenvolvimento da
razão e do surgimento da sociedade.
Há muito que
o ser humano percebe a influência dos odores nas artes do amor, mas apenas no
início do século XX, o psicólogo inglês Havelock Ellis publica o seu clássico Estudo sobre Psicologia do Sexo: Seleção
Sexual no Homem, em que escreveu que “para a maioria dos mamíferos não
apenas todas as associações sexuais são principalmente olfativas, mas as
impressões recebidas por este sentido bastam para dominar todas as outras.”.
Demorou mais
de meio século para que esses insights
pioneiros de Ellis fossem retomados por diversos pesquisadores para tentarem
explicar alguns fenômenos cotidianos aparentemente desconexos, como a
sincronização dos ciclos menstruais de mulheres que vivem juntas, o poder de
atração sexual da dança, a mudança de odor que ocorre durante a puberdade, a
rejeição de órgãos em transplantes ou decaimento do sentido do olfato que
acompanha o decaimento sexual com a idade. No estudo com animais existiam ainda
mistérios científicos, como a razão por que irmãos de uma mesma ninhada não
costumam acasalarem entre si, se dentre os irracionais não existe a vedação do
tabu anunciado por Lévi-Strauss.
O conjunto
de conhecimentos que define como os hormônios influenciam o comportamento
humano gerou uma disciplina própria, chamada pelo longo nome de
psiconeuroendocrinologia.
Dessa
maneira é que se começou a relacionar os odores e seus processos inconscientes
como fatores determinantes também no comportamento humano. Foi descoberto que
nem todos os químicos voláteis são processados no sistema olfativo principal,
existem alguns que são processados por um sistema secundário, químicos estes
que os cientistas conhecem por feromônios,
palavra com radicais gregos que significam “transferir a excitação”.
Apenas nas
últimas décadas é que se começou a aprofundar o estudo da ação de tais químicos
na espécie humana, mas muitos pesquisadores têm afirmado que longe se está de
uma postura meramente analítica e racional a respeito do comportamento, e os
odores têm papel fundamental nos encontros e no acasalamento humano.
Luiz Bonow, 2015
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