“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder.”

(Oscar Wilde)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

AS RELIGIÕES DO SEXO – O CAMINHO PARA O FOGO


Campo de Estudo: Orgasmo

Em sua obra seminal, “A Cidade Antiga”, o historiador Fustel de Coulanges demonstrava como as religiões ocidentais derivaram dos cultos domésticos ao fogo, tradição que ainda se mantém até hoje, seja na pira olímpica, nas velas das procissões ou nas fogueiras de São João. No entanto, como e qual é o porquê de o ser humano ter iniciado a cultuar o fogo?
Os arqueólogos ensinam que o primeiro culto religioso, que iniciou próximo ao surgimento do homo Sapiens sobre a terra, foi a veneração aos mortos que já ocorria há aproximadamente cem mil anos. Já nessa época as pessoas eram enterradas junto com os seus pertences.
O segundo culto religioso foi o do mistério da reprodução humana. Há aproximadamente 24 mil anos, o ser humano começou a esculpir e venerar as chamadas “vênus esteatopígicas”, estatuetas que representavam mulheres gordas ou grávidas, uma vez que não conheciam a relação entre o sexo e reprodução. Aliás, por mais estranho que possa parecer aos nossos olhos modernos, os aborígenes australianos só aprenderam este fato com a chegada dos europeus e o antropólogo Brodislaw Malinowski descobriu já no Século XX, nas ilhas Trobriand, uma tribo que acreditava que as mulheres ficavam grávidas dos espíritos, sendo, portanto, as emissárias dos deuses.
O terceiro culto religioso da humanidade ocorreu entre nove e sete mil anos atrás, no período que o arqueólogo Gordon Childe chamou de “Revolução Neolítica”. Foi quando o ser humano descobriu o papel masculino na reprodução e passou a mimetizar a sua função reprodutiva, enterrando estátuas de pênis na terra, no formato de menires, lingas, ovos, colunas de pedras ou estacas, de maneira a pedir aos deuses por prole, rebanhos e colheitas maiores. Os cultos fálicos permaneceram na Europa, pelo menos, até o Século XVIII e hoje em dia, no Japão ainda há a festa anual do pênis de aço, em Kawasaki, cujas inscrições podem ser feitas NESTE SITE
Há aproximadamente 3000 anos, alguns homens descobriram que poderiam desvincular o orgasmo da ejaculação, controlando assim a fecundidade da mulher, que não era mais a detentora dos poderes divinos da vida. Para obter esse controle, é necessário pressionar três musculaturas em formato de triângulo equilátero, conforme processo que já expliquei anteriormente neste blog. Este é o motivo pelo qual a maior parte das religiões modernas possui triângulos na sua simbologia: a Estrela de David, a trindade Wicca, damaru, o tambor de Shiva, os três pontos dos Maçons, a Santíssima Trindade... Neste momento o ser humano evoluiu mais um pouco, deixou de enterrar falos no chão e passou a construir pirâmides. Esta foi a quarta religião da humanidade. (E você aí pensando que aqueles trambolhos de pedra tinham sido construídos por ETs para servirem de GPS para discos voadores, né? Sabe nada, inocente!).
E chega-se finalmente a quinta religião. Pouco depois do culto ao triângulo e às pirâmides, que sucedeu os cultos anímicos do Neolítico, alguns mais dedicados à prática do sexo descobriram que o orgasmo poderia ser, além de desvinculado da ejaculação, também controlado. Ao “calorão” que sobe pela coluna vertebral, que hoje chamamos de libido ou tesão, os indianos chamaram de “kundalini”, os chineses de “chi”, os gregos de “psiquê” e os latinos de “spiritu”. A “energia sexual” foi comparada a uma emanação, um fogo interior, que poderia ser controlado, gerando, além de prazer imenso e a possibilidade de satisfazer numerosas esposas em um único ato sexual, também um estado alterado de consciência similar ao do uso de drogas que pode ser controlado pela força de vontade.
Este prazer imenso e esse predomínio patriarcal em toda a sua plenitude foi representado pelo uso doméstico da pira, com o culto do fogo, e aí se adentra no período histórico, tão magistralmente dissertado por Fustel de Coulanges.


Luiz Bonow, 2015

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