Campo de Estudo: Orgasmo
Em sua obra
seminal, “A Cidade Antiga”, o historiador Fustel de Coulanges demonstrava como
as religiões ocidentais derivaram dos cultos domésticos ao fogo, tradição que
ainda se mantém até hoje, seja na pira olímpica, nas velas das procissões ou
nas fogueiras de São João. No entanto, como e qual é o porquê de o ser humano ter
iniciado a cultuar o fogo?
Os
arqueólogos ensinam que o primeiro culto religioso, que iniciou próximo ao
surgimento do homo Sapiens sobre a terra, foi a veneração aos mortos que já
ocorria há aproximadamente cem mil anos. Já nessa época as pessoas eram
enterradas junto com os seus pertences.
O segundo
culto religioso foi o do mistério da reprodução humana. Há aproximadamente 24
mil anos, o ser humano começou a esculpir e venerar as chamadas “vênus
esteatopígicas”, estatuetas que representavam mulheres gordas ou grávidas, uma
vez que não conheciam a relação entre o sexo e reprodução. Aliás, por mais
estranho que possa parecer aos nossos olhos modernos, os aborígenes
australianos só aprenderam este fato com a chegada dos europeus e o antropólogo
Brodislaw Malinowski descobriu já no Século XX, nas ilhas Trobriand, uma tribo
que acreditava que as mulheres ficavam grávidas dos espíritos, sendo, portanto,
as emissárias dos deuses.
O terceiro
culto religioso da humanidade ocorreu entre nove e sete mil anos atrás, no
período que o arqueólogo Gordon Childe chamou de “Revolução Neolítica”. Foi
quando o ser humano descobriu o papel masculino na reprodução e passou a
mimetizar a sua função reprodutiva, enterrando estátuas de pênis na terra, no
formato de menires, lingas, ovos, colunas de pedras ou estacas, de maneira a
pedir aos deuses por prole, rebanhos e colheitas maiores. Os cultos fálicos
permaneceram na Europa, pelo menos, até o Século XVIII e hoje em dia, no Japão
ainda há a festa anual do pênis de aço, em Kawasaki, cujas inscrições podem ser
feitas NESTE SITE.
Há
aproximadamente 3000 anos, alguns homens descobriram que poderiam desvincular o
orgasmo da ejaculação, controlando assim a fecundidade da mulher, que não era
mais a detentora dos poderes divinos da vida. Para obter esse controle, é
necessário pressionar três musculaturas em formato de triângulo equilátero,
conforme processo que já expliquei anteriormente neste blog. Este é o motivo pelo qual a maior parte das religiões modernas possui
triângulos na sua simbologia: a Estrela de David, a trindade Wicca, damaru, o
tambor de Shiva, os três pontos dos Maçons, a Santíssima Trindade... Neste
momento o ser humano evoluiu mais um pouco, deixou de enterrar falos no chão e
passou a construir pirâmides. Esta foi a quarta religião da humanidade. (E você
aí pensando que aqueles trambolhos de pedra tinham sido construídos por ETs
para servirem de GPS para discos voadores, né? Sabe nada, inocente!).
E chega-se
finalmente a quinta religião. Pouco depois do culto ao triângulo e às
pirâmides, que sucedeu os cultos anímicos do Neolítico, alguns mais dedicados à
prática do sexo descobriram que o orgasmo poderia ser, além de desvinculado da
ejaculação, também controlado. Ao “calorão” que sobe pela coluna vertebral, que
hoje chamamos de libido ou tesão, os indianos chamaram de “kundalini”, os
chineses de “chi”, os gregos de “psiquê” e os latinos de “spiritu”. A “energia
sexual” foi comparada a uma emanação, um fogo interior, que poderia ser
controlado, gerando, além de prazer imenso e a possibilidade de satisfazer
numerosas esposas em um único ato sexual, também um estado alterado de
consciência similar ao do uso de drogas que pode ser controlado pela força de
vontade.
Este prazer
imenso e esse predomínio patriarcal em toda a sua plenitude foi representado
pelo uso doméstico da pira, com o culto do fogo, e aí se adentra no período
histórico, tão magistralmente dissertado por Fustel de Coulanges.
Luiz Bonow, 2015
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