Campo de Estudo: Propedêutica
Mersault, o
personagem de Camus no romance “O Estrangeiro” passa todo o tempo falando “Cela
m’est égal.”, tudo me é indiferente!
A
relativização dos costumes e a própria ideologia das esquerdas induz a pensar que
nada é melhor que nada. Não existem civilizações mais avançadas e, portanto,
deve-se tolerar que indígenas enterrem bebês nascidos gêmeos ou que fanáticos
árabes queimem pessoas vivas, pois afinal é tudo igual. Como Mersault, deve-se
pensar que um baile funk é uma manifestação cultural exatamente do mesmo
patamar que a 6ª de Beethoven. Cela m’est égal!
E na
sexualidade, será que todos os atos são indiferentes? Então, pergunte-se:
Por que alguém pagaria 780 mil dólares
no leilão na Internet de uma virgem de Santa Catarina, conforme foi amplamente
divulgado pela imprensa? E por que historicamente as sociedades normalmente
valorizam a virgindade feminina, inclusive do ponto de vista religioso? O que
interessa que a Virgem Maria fosse ou não virgem? Por que o crime de estupro é
visto dentro de cadeias por bandidos cruéis, como assassinos e agressores, como
mais bárbaro? Por que homens não costumam casar-se com prostitutas: não seria
muito mais fácil escolher uma mulher linda e educada dentre garotas de programa
do que namorar diversas mulheres “de família” (Quem garante?!), pagando
jantares caros e baladas cansativas? Por que não apresentar simplesmente a
prostituta para a mãe e falar “Mamãe, esta é a fulana, minha namorada e prostituta.”
Por que uma famosa apresentadora de TV praticamente desapareceu da mídia depois
que foi filmada fazendo sexo com o namorado? Por que o ser humano é o único
animal que se esconde dos demais para fazer sexo? Por que escândalos sexuais destroem
carreiras? Por que as viúvas representam um fetiche masculino, como aparece em
diversos filmes, e as divorciadas, não?
Será tudo isso, nas palavras de Madame
de Beauvoir, fruto de “l’ensemble de la civilisation”? O conjunto civilizatório
simplesmente optou por esses comportamentos sexuais ou será que existe algo
mais profundo, um comportamento instintivo, próprio do ser humano? Atitudes
arquetípicas, imutáveis, eternas para todos os povos e todas as épocas permeiam
nossos discursos e comportamentos mais cotidianos?
A resposta é sim, não há nada a ver
com moral, religião ou imposições da sociedade.
O que todas as situações citadas logo
mais acima têm em comum? Simplesmente a mente humana valoriza o comportamento
íncubo (o que é ativo no ato sexual) e desvaloriza o súcubo (aquele que se
entrega ao ato). Por isso, valorizam-se as virgens, estupro é considerado um
crime bárbaro dentre os bárbaros, prostitutas não se casam tão facilmente,
mulheres fáceis são desvalorizadas e mulheres que foram casadas até a morte do
marido “valem” mais para os homens que aquelas que tiveram seus casamentos
desfeitos.
No comportamento sexual, esqueça-se,
portanto, o vale-tudo. No sexo existe uma maneira correta e uma maneira errada
de se comportar, simplesmente porque se vive em grupo. Aqueles que não o fazem
simplesmente reduzem as suas chances de sucesso social.
No final do romance, Mersault é
guilhotinado. Para que a vida prossiga da melhor maneira possível, escolhas
positivas devem ser feitas. Cela n’est pas égal! Nada é indiferente!
Luiz Bonow, 2015
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