Se fosse
para votar em uma cena de sexo ou sedução na história do cinema, em qual eu
votaria?
Descartaria
de imediato as grandes produções eróticas, como o velho Nove e Meia Semanas de
Amor ou o 50 Tons de Cinza. Fora! com o Emanuelle e até mesmo as cenas
icônicas, como o a do ovo do Império dos Sentidos ou da manteiga do Último
Tango em Paris. Até o cruzar de pernas de Sharon Stone, também acho de mau
gosto. Todos eles parecem dirigidos por adolescentes rebeldes. Bom cinema
erótico é algo difícil de se encontrar.
Para não
fazer injustiça às superproduções, eu faria duas referências ao filme Calígula:
a primeira, no momento que o imperador persegue a irmã no bosque, correndo
entre as árvores até que a seduz; a segunda, quando aparece no noivado do seu
soldado de confiança e exerce o direito de “primae noctis” com a noiva. Talvez
uma das cenas mais cruéis da história do cinema.
Hors
concours é a cena de Al Pacino, seduzindo a bela estranha com apenas uma dança de tango, no filme Perfume de Mulher. Não me canso de assistir.
Gosto também
das referências à adolescência em cenas clássicas do cinema que a ditadura do
politicamente correto matou, que foram muito bem reproduzidas naquela propaganda dos Chocolates Garoto de 1995: Era Uma
Vez na América, Verão de 42... Só faltou naquele anúncio, a cena do Amarcord,
de Felini, em que o menino se sufoca nos seios de uma das matronas da aldeia.
Aliás, o
italiano tinha umas cenas ótimas, como a do harém de ex-namoradas de Marcelo Mastroianni
no filme Oito e Meio.
Ainda nos
clássicos, Truffaut foi o melhor de todos os tempos. No “O Homem que Amava as
Mulheres”, a cena do enterro em que dezenas de ex-namoradas seguem o caixão do
personagem é antológica. Os encontros entre os amantes do “A Mulher do Lado”
são maravilhosamente bem dirigidas.
Na comédia
“As Aventuras de Tom Jones” há uma
cena em que Albert Finney vai jantar em uma estalagem e começa a paquerar a
prostituta do local, com ambos comendo de maneira nojenta. É uma cena de
sedução sensacional!
“Esse
Obscuro Objeto do Desejo”, de Luís Buñuel, é outro filme de erotismo que merece
ser assistido.
Há uma cena
de Brian de Palma no filme “Dublê de Corpo” em que o personagem corre atrás de
uma estranha que caminha pela praia e quando a alcança, ela simplesmente
vira-se e retira os óculos escuros deixando tonta a plateia masculina do
cinema. O diretor consegue criar naquele momento a mulher mais linda do
mundo...
Philip
Kaufman é outro diretor que entende do riscado. Gosto da cena em que Juliette Binoche
se afasta de Daniel Day Lewis no “A Insustentável Leveza do Ser”, porque ele
cheirava a outra mulher. “Henry & June”, o relacionamento entre Henry
Miller, sua esposa June e a escritora Anaïs Nin, é outro primor do erotismo.
And my Oscar goes to... Henry IV! , de 2010. É um filme que quase ninguém assistiu, mas a primeira noite do futuro Rei
Henrique com a Princesa Margot é um primor de direção cinematográfica. É dos
poucos filmes que se tem a impressão que o diretor conhece a Arte dos Lençóis.
Quem puder assista, além desta cena, virá junto também um grande filme.
Luiz Bonow, 2015
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